quinta-feira, 26 de março de 2020

Atividade De Português, 9º Anos Prof. Dailzi Frauzino

Escola Est. Olímpio Alves
Lista de Atividades L. Portuguesa  – Prof. Dailzi Frauzino – Data___/___/___     
Aluno _________________ _________________________Turma 9º ___ 1º Bimestre

Na Escuridão Miserável
Fernando Sabino

Eram sete horas da noite quando entrei no carro, ali no Jardim Botânico. Sente que alguém me observa, enquanto punha o motor em movimento. Voltei-me e dei com os olhos com uns olhos grandes e parados como os de um bicho, a me espiar, através do vidro da janela, junto ao meio fio. Eram de uma negrinha mirrada, raquíticas, um fiapo de gente encostado ao poste como um animalzinho, não teria mais que uns sete anos. Inclinei-me sobre o banco, abaixando o vidro:
- O que foi, minha filha? – Perguntei naturalmente, pensando tratar-se de esmola.
- Nada não senhor - Respondeu-me, a medo, um fio de voz infantil.
- O que é que você está me olhando aí?
- Nada não senhor - Repetiu. – Tô esperando o ônibus...
- Onde é que você mora?
- Na Praia do Pinto.
- Vou para aquele lado. Quer uma carona?
Ela vacilou, intimidada. Insisti, abrindo a porta:
- Entra aí que eu te levo.
Acabou entrando, sentou-se na pontinha do banco, enquanto o carro ganhava velocidade, ia olhando duro para a frente, não ousava fazer o menor movimento. Tentei puxar conversa:
- Como é o seu nome?
- Tereza.
Quantos anos você tem, Tereza?
- Dez.
- E o que estava fazendo ali, tão longe de casa?
- A casa da minha patroa é li.
- Patroa? Que patroa?
Pela sua resposta, pude entender que trabalhava na casa de uma família no Jardim Botânico: lavava roupa, varria a casa, servia à mesa.
Entrava as sete da manhã, saía as oito da noite.
- Hoje saí mais cedo. Foi jantarado.
- Você já jantou?
- Não. Eu almocei.
- Você não almoça todo dia?
- Quando tem comida para levar, eu almoço: Mamãe faz um embrulho de comida para mim.
- E quando não tem?
- Quando não tem, não tem. – E ela até parecia sorrir, me olhando pela primeira vez. Na penumbra do carro, suas feições de criança, esquálidas, encardidas de pobreza, podiam ser as de uma velha. Eu não me continha mais de aflição, pensando nos meus filhos bem nutridos – um engasgo na garganta me afogava no que os homens experimentados chamam de sentimentalismo burguês:
- Mas não te dão comida lá? – Perguntei, revoltado.
- Quando eu peço eles dão. Mas descontam no ordenado, Mamãe disse para eu não pedir. – E quanto é que você ganha?
Diminuí a marcha, assombrado, quase parei o carro. Ela mencionara uma importância ridícula, uma ninharia, não mais que alguns trocados. Meu impulso era voltar, bater na porta da tal mulher e meter-lhe a mão na cara.
- Como é que você foi parar na casa dessa... foi parar nessa casa? – Perguntei ainda enquanto o carro ao fim de uma rua do Leblon, se aproximava das vielas da Praia do Pinto. Ela disparou a falar:
- Eu estava na feira com mamãe então a madame pediu para eu carregar as compras e aí no outro dia pediu a mamãe para eu trabalhar na casa dela, então mamãe deixou porque mamãe não pode deixar os filhos todos sozinhos e lá em casa é sete meninos fora dois grandes que já são soldados pode parar que é aqui moço, obrigado.
Mal detive o carro, ela abriu a porta e saltou, saiu correndo, perdeu-se logo na escuridão miserável da Praia do Pinto.
 
Interpretação escrita
1) Ao ver a menina, o narrador pensou que ela queria esmola:
a – A menina não era uma pedinte: trabalhava, estava à espera de um ônibus para voltar para casa; o que leva o narrador a pensar que ela queria esmola?
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b) Por que o narrador considera natural que aquela menina estivesse pedindo esmola?
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2) Observe as comparações:
“... dei com uns olhos grandes e parados como os de um bicho...”
“... um fiapo de gente encostado ao poste como um animalzinho...”
Por que a menina lembra um bicho, um animalzinho?
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3) Responda:
a) Por que o narrador achou que uma menina de dez anos tinha sete?
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b) Se o narrador pensou que a menina tinha sete anos, por que acha que sua aparência podia ser de uma velha?
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4) Localize este trecho do diálogo em que o narrador quer saber o que acontece, quando a menina não tem comida:
“ – E quando não tem?
- Quando não tem, não tem – e ela até parecia sorrir, me olhando pela primeira vez. ”
Diante da pergunta, a atitude da menina muda: ela parece sorrir, ela olha pela primeira vez para o narrador. Por que a pergunta desperta na menina esta reação?
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5) Explique o sentimento do narrador:
a) O que causou a aflição?
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b) O que causou a revolta?
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C) O que causou o assombro?
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6) Dê os significados das palavras:
a) Sentimentalismo:
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b) Burguês:
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7) Escolha a frase entre as seguintes, que expressa como se sentia o narrador, afogado em sentimentalismo burguês:
a) Constrangido com a diferença entre seus filhos bem nutridos e a menina
b) Comovido com o contraste entre a sua boa condição de vida e a pobreza da menina
c) desgostoso por ter de tomar conhecimento da pobreza, da miséria, da fome

8) O narrador interrompe a frase: “ na casa dessa...”.
a) Por que ele não completa a frase?
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b) Complete você a frase: que palavra você acha que ele iria falar?
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c) Que “culpas” tinha a mulher, para irritar assim o narrador?
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9) Compare as atitudes da menina no início e no fim da história e explique a mudança de atitude dela, ao aproximar-se do lugar onde morava.
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10) Qual é a sua definição para o gênero textual crônica?
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